No contexto atual, tenho percebido no discurso das pessoas um encurtamento dos horizontes de tempo nos dois sentidos, isto é, tanto têm dificuldade em projetar o futuro quanto buscar forças e inspiração nos desafios vencidos no passado. A incerteza tem feito as pessoas encurtarem seus horizontes futuros de planejamento, pois as frequentes frustrações de expectativas quanto ao retorno da normalidade das nossas vidas, nesse 2020 que não acaba nunca, faz com que deixemos de acreditar em mudanças e oportunidades.
Não planejar e não alimentar esperanças quanto ao futuro é uma maneira de nos mantermos afastados de sentimentos de falha, de vergonha e autopunição por não termos atingido nossas metas e de críticas à nossa “ingenuidade” por parte dos outros.
No outro sentido da linha do tempo, olhar para o passado, que sempre nos trouxe alento em função dos desafios que já vencemos, também está em desuso. Muitos dos mais jovens que cresceram plugados na rede, afastados dos esportes, das aventuras, viagens, amizades e relacionamentos fora da tela dos celulares e pressionados pela comparação dos padrões de vida de suas famílias com bolhas das redes sociais, tem dificuldade de encontrar confiança em sua capacidade de realização. Os mais velhos, levados por um padrão de comportamento de homo sapiens que evolutivamente foi desenhado para garantir nossa sobrevivência nas savanas, constantemente colocam mais foco nos episódios em que as coisas deram errado: é nosso cérebro nos “ajudando” a prevenir a repetição desses erros no futuro. É esse mesmo mecanismo que em função das incertezas olha para o futuro e só consegue focar nos perigos e ameaças.
Estamos entrincheirados no tempo. Só que o aqui-agora também é sufocante: basta assistir ao noticiário, repleto de narrativas, fatos distorcidos, acusações mútuas, que provocam náusea. E quanto mais tempo você passa nas bolhas das redes sociais, mais distante do mundo real, que apesar de tudo continua, e mais ansioso você fica.
Ver as coisas pelo lado negativo para muitos é um verdadeiro vício, um alimento palatável, aquele com que mais gostamos de nos alimentar. Isso está em toda parte, do sarcasmo e ironia utilizado pelos comediantes de stand up ao cinismo e pessimismo dos filósofos que muitos de nós adoram assistir nos canais de youtube.
Ainda estamos aprendendo
Aprender a administrar nossas emoções e encontrar esperança ao olhar para o horizonte, independente da turbulência em que nos encontremos, é absolutamente imperativo. Porque acredite você ou não, temos muito tempo pela frente e nos entrincheirarmos não ajuda. Veja que interessante esses dados que chamaram minha atenção nessa semana.
Em 1940 no Brasil, década em que meus pais nasceram, a expectativa de vida dos brasileiros segundo o IGBE era de 43 anos em média para os homens e de 48 anos para as mulheres. Essas eram as médias nacionais. Muitos de nós, e eu me incluo nesse grupo, fomos criados com essa forma de pensar: a vida é curta.
No pensamento de meus avós, os desafios da vida adulta ou a “jornada virtuosa de vida” de uma pessoa era bastante simples: 1) arrumar uma ocupação e sustentar-se, sendo que nesse quesito, quanto mais você tivesse acesso ao estudo mais poderia ter expectativa de um bom rendimento; 2) casar-se; 3) conseguir sua casa própria; 4) ter e criar seus filhos; 5) se aposentar após trabalhar algumas décadas exercendo sua profissão, aquela mesma que você conseguiu lá atrás. E pronto, se você cumprisse essas etapas, mais ou menos nessa ordem, teria tido uma vida digna e bem-sucedida.
Hoje, nos anos 2020, a expectativa de vida ao nascer média dos brasileiros subiu para os 73 anos para os homens e 80 anos para as mulheres. Trinta anos a mais do que na década de 40. E a esperança de vida, que significa o quanto se espera que você viva a mais a partir de uma certa idade, para os que conseguem atingir essas idades de 73 e 80 anos é em média de mais 10 anos, ou seja, se você já chegou aos 80, é provável que ainda tenha mais 10 anos em média pela frente e chegue aos 90.
Ou seja, muitos de nós vamos viver pelo menos o dobro do tempo em relação ao que programado quando nossos parentes nos perguntavam o que iríamos ser quando crescêssemos ou com quem nossos pais deixariam nos casarmos. Nossa vida vai ser sujeita a muito mais solavancos e transições e nossa jornada não será linear.
É fácil entender por que é mais comum encontrarmos visões pessimistas em função do desconforto a que estamos expostos quando comparamos a vida real à nossa programação mental. Sabe a turma do “no meu tempo…”? Quem não atualizou suas crenças para essa montanha-russa da nova realidade lida com uma carga extra de impactos em sua saúde física e emocional ao tentar administrar seus estilos de vida conforme a programação original.
Quer entender alguns efeitos deste tempo de vida maior? Leia a segunda parte deste artigo.
Publicado originalmente em 27/01/21 no LinkedIn por Marcelo do Carmo
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